ALTAR MOR
Entalhador: Vitoriano dos Anjos Figueiroa
Data da obra: 1854-1962
Definir o altar-mor não é tarefa simples que se realizará a contento em apenas poucas páginas de uma pesquisa que procura catalogar todo o acervo de um templo. Mas o altar-mor representa um ponto chave para este acervo, por haver sido terminando os entalhes com uma consistência visual que o parâmetro para os entalhadores que vieram posteriormente, dificulta a separação das obras de talha. Vitoriano teve um capricho particular ao desconectar o altar totalmente das paredes, conferindo detalhes possíveis somente à obra de arte que sai do nicho e que se permite ser olhada tridimensionalmente, em todos seus ângulos.
O altar de Campinas é um retábulo tipo baldaquino arrematado por cúpula vazada sobre volutas. Freire encontrou apenas um retábulo deste tipo fora da Bahia, justamente o altar-mor de Campina. É composto de madeira envernizada, sem policromia ou douramento, está instalado na Capela-mor da Catedral.
O entalhe de Vitoriano é leve e singelo, despindo-se mesmo de alguns traços característicos dos altares baianos, não fez uso da imagem de querubins, flores em profusão, animais, imagens antropomorfas e figuras teologais.
Quanto a ornamentação e a arquitetura, este artista fez uso dos elementos típicos dos retábulos tridentinos, a exemplo os vasos com festões no arremate das colunas voltadas para o público. O vaso tem um valor simbólico, como representação da água, fonte vital da vida, um atributo conferido, muitas vezes, à figura da Imaculada, considerada receptáculo da Igreja e da vida.
A cúpula do baldaquino é arrematada por volutas em S, ornamentadas com festões na parte frontal, tem em sua parte superior pináculos esculpidos. A cúpula de Campinas possui dois anéis, os quais se encontram finalizados com volutas em S, ornadas com folhagens. Apenas dois casos foram encontrados por Freire de cúpula desdobrada em dois anéis, a Igreja de Pirajuíra (BA) e a Catedral de Campinas. A parte superior da cúpula está arrematada por palmetas e olivas. O interior das volutas é orado com olivas. O anel intermediário possui friso canelado, com um anel mais abaixo, canelado.
O anel inferior da cúpula é ornado com festões de flores e um cordão interligado. O alto da cúpula é finalizado por outro vaso, agora fechado e com muitas flores.
O entablamento do altar é rico em detalhes, sendo alguns óvalos e olivas, próprios da talha baiana, e florões que ornamentam o friso, criação do próprio entalhador.
As colunas de retábulos mores, na Bahia, recebiam ornamentação apenas no terço inferior, no caso de Campinas, o artista optou por dividi-las em três partes, decorando todos os terços com elementos fitomorfos, sendo as caneluras de cada terço diferentes uma da outra. O primeiro terço recebe decoração de pérolas nas caneluras e óvalos em sua finalização. O segundo terço repete a decoração inferior do primeiro, mas com finalização de festões fitomorfos e óvalos. O terceiro terço começa e finaliza com ornamentos fitomorfos. O capitel das colunas é coríntio.
O entalhe do trono é todo trabalhado e vazado, como Joaquim dos Santos, no altar de Nosso Senhor do Bonfim, a cúpula, muito parecido ao entalhe praticado por Antônio lembrando o rocaille do rococó, estão em número de sete, em Salvador. Os andares do trono têm formas arredondadas sendo usual utilizar cinco andares.
Na mesa e no frontal, Vitoriano fez uso da sobriedade na ornamentação, mantido em todo seu trabalho. O frontal, de baixo para cima, possui ornamentação com: canelados, pérolas, um friso ornamentado com festões e flores, acantos, friso de cordão retorcido, motivos fitomorfos e olivas, uma de suas assinaturas.
A mesa, atrás do frontal, é arremata com detalhes em forma de U, acantos e olivas. Na coluna lateral se percebe a utilização das pérolas e de motivos fitomorfos. No nicho da padroeira percebem-se olivas, uma coroa pequena com pérolas, pináculos, motivos fitomorfos e a cúpula vazada.
Nas pilastrinas a ornamentação mantém- -se com festões de flores e olivas, sobrepostas à formas geométricas, estas formas geometrizadas são encontradas igualmente na coroa do baldaquino.
Os detalhes, ornatos e motivos utilizados por Vitoriano no altar-mor permitem uma atribuição iconográfica a outras obras entalhadas como: as grades das tribunas, coro e púlpitos. Embora alguns elementos sejam próprios ao estilo de cada entalhador, a concepção arquitetônica dos altares demonstra a intenção de consistência visual no conjunto.
(FONTE: BARRANTES, Paula Elizabeth de Maria, 2015)